A primeira semana em Cartagena foi um tanto
quanto diferente e com alguns contratempos. O maior deles, sem dúvidas, foi
providenciar tudo para que conseguíssemos viver tranquilamente em nossa casa.
Estamos morando em um convento desativado, que é um tanto quanto assustador às
vezes, mas por enquanto está tranquilo de viver por aqui (até agora não fiquei
sozinho em casa). Nesta semana, ficamos sem geladeira, portanto não podíamos
comprar praticamente nada de comida para casa, o que nos fez gastar muito mais
do que o esperado! Mas em geral morar aqui está sendo bom, tenho um quarto com
banheiro só para mim. Uma curiosidade aqui é que não existe água quente ou
chuveiro elétrico, o banho tem que ser de água fria mesmo, o que não é nenhum
sacrifício, devido ao calor que faz.
A comida por aqui também tem suas
diferenças. Nada que seja difícil de engolir, mas a comida deles parece muitas
vezes que falta tempero, falta sal, ou algo do tipo. Aqui é comum comer, por
exemplo, abacate cozido com sal, arroz e uma carne de almoço. Estou
experimentando de tudo, e até agora foram pouquíssimas coisas que “não
desceram”. Isso não quer dizer que não estou com saudades da comida do
Brasil... dá até saudade do RU da UFSC! Apesar de tudo, o pior ponto da comida
colombiana ainda é a quantidade de gordura: tudo é frito, muito gorduroso. E
eles comem apenas 3 vezes por dia: o “café da manhã” (desayuno), almoço e janta,
sempre a base de muito carboidrato, muito gorduroso e muito calórico, a pior
dieta que existe. Estou com medo de engordar por aqui, está sendo difícil
tentar manter o peso. De manhã se come, por exemplo, uma omelete com arepa (que
também é frita). No almoço, sempre tem arroz e alguma carne, geralmente
acompanhado de algo como abacate cozido ou banana verde frita (patacón), e uma
quantidade bem pequena de salada. Já na janta, bem, por enquanto não jantamos
tradicionalmente como colombianos, mas a comida geralmente é a mesma do almoço
(ao meio dia se faz uma quantidade maior e de noite só se esquenta – como diria
minha mãe, é o “soborô”).
A culinária mais típica da Colômbia é a da
região paisa, ou seja, do interior do país. Um prato típico é a bandeja paisa,
que vem com as comidas mais tradicionais, que eu ainda não aprendi o nome de
todas: arepa, patacón, chorizo, carne moída com um tempero diferente, carne de
porco com couro frita (parece um torresmo gigante), ovo frito, arroz e feijão /
lentilha.
Bandeja Paisa, prato típico do interior da
Colômbia
Outra coisa diferente do Brasil também é
que a limpeza não é o forte, tem gente que chega a comparar aqui com a Índia. Exageros
a parte, é difícil ver uma lixeira na rua, as pessoas simplesmente jogam as
coisas no chão e pronto. Até mesmo dentro das casas, parece que o máximo que se
limpa é quando passam uma vassoura e pronto.
Logo no meu primeiro dia efetivamente por
aqui – sexta-feira, 16 de dezembro –, além de comprar meu chip e ter conhecido
um pouco mais sobre a cidade, fomos a um evento da Fundación Amanecer em um
bairro pobre, praticamente como uma Cohab no Brasil, onde vivem pessoas que
foram tiradas das suas casas por causa da violência, pessoas deficientes e necessitadas em geral. A fundação fez um
trabalho ao longo do ano com as pessoas dessa comunidade, capacitando-os
através de diversos cursos, para que possam gerar suas receitas e garantir que
suas famílias tenham o que comer. Este evento foi uma entrega do que eles
chamam aqui de “capital semilla” e também de microcrédito para as pessoas que
participaram dos cursos e estão abrindo suas empresas em casa. Foram entregues
diversos materiais, como geladeiras, fornos, expositores, produtos de beleza,
secadores, produtos químicos e muitas outras coisas, conforme cada equipe
descreveu que necessitava para montar seu negócio. Funciona da seguinte maneira:
nos cursos de capacitação – moda, cozinha, cabeleireiro, produtos de beleza e
outros –, as pessoas se juntam em grupos de 3 ou 4 para que montem um negócio.
Eles elaboram um plano de negócio, com ajuda das pessoas da fundação, recebem
capacitação para a parte de gerência do negócio também, e recebem no fim do
curso o maquinário e produtos que necessitam para iniciar o negócio. Quem
quiser, ainda, pode contratar um microcrédito, que tem bastantes vantagens para
eles, como taxas baixas e parcelas pequenas para pagar.
Evento de entrega de capital semilla e
microcrédito
Montagem do evento, acompanhada pelos
moradores
O trabalho da Fundación Amanecer é muito
legal e até agora está me parecendo ser organizado e feito com muito empenho.
Eles visam principalmente melhorar a qualidade de vida da população pobre e
vulnerável de Cartagena e a formação integral de pessoas, gestoras do seu
próprio desenvolvimento. Ao identificar uma região com necessidade de
desenvolvimento, começa o trabalho de sensibilização das pessoas que vivem lá,
para que se criem os laços necessários com a comunidade. Depois, são feitas as
capacitações, através de cursos desenvolvidos com base nas necessidades daquela
região. O primeiro objetivo é gerar receitas, para garantir que as famílias
possam ter condições de pelo menos uma refeição diária. Depois disso, a
fundação ajuda estas pessoas a desenvolverem as suas ideias de negócio, a
partir da qual a fundação pode entregar o capital semilla e, se as pessoas
desejarem, o microcrédito. E não acaba só aí, a fundação ainda faz o
acompanhamento do negócio, para se certificar que todos estão fazendo tudo da
melhor maneira possível e, se necessário, fazer algum outro tipo de capacitação.
Por enquanto, meu trabalho na fundação se
resume ao marco lógico que estou desenvolvendo, para uma convocatória do Banco
Internacional do Desenvolvimento – BID. O projeto está sendo desenvolvido por
um conjunto de ONGs de Cartagena, as quais irão apresentar sua ideia para tentar
conseguir fundos do BID para que possam investir no desenvolvimento da cidade.
Envolve melhorias nas áreas de saúde, educação, ambiental, fortalecimento
organizacional, desenvolvimento econômico e fortalecimento institucional. A
Fundación Amanecer, juntamente com o Colegio Mayor de Bolívar, ficou
responsável pela parte da educação. Estou desenvolvendo o que se refere à
educação pertinente ao trabalho, ou seja, capacitação profissional. Até agora
passei a maior parte do tempo estudando a ferramenta do marco lógico e
desenvolvendo os objetivos, resultados esperados e atividades a serem
desenvolvidas no projeto. No início dessa semana iremos definir os indicadores,
formas de verificação e hipóteses para que possamos deixar tudo pronto para a
quarta-feira e que possam montar todo o projeto até 31 de dezembro, último dia
para as postulações da convocatória.
Encerrando, espero que todos tenham tido um
feliz natal! Falando em natal, foi triste passar o natal longe da família. Foi
o natal com menos “cara de natal” que já passei. Todos os trainees que estão
aqui em Cartagena – agora somos 12 brasileiros e mais 2 chilenos – foram para o
restaurante da família da Man Ching, a colombiana que estava em Joinville, e
jantaram por lá. Apesar de ter sido legal, este fim de semana foram os dias que
mais senti falta de estar ao lado da minha família e da minha namorada e de
poder abraçar todo mundo!
“Ceia de natal” com comida chinesa dos
trainees
Por enquanto eu fico por aqui, no próximo
post prometo que escrevo um pouco sobre a parte turística e bonita da cidade.
Abraços e beijos a todos, estou com
saudades!
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